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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Lua de Mel-Amanhecer (cena imaginaria!!!!)
Lua de Mel – Bella e Edward (Amanhecer)
[Edward]
Isabella Swan. O nome dela rodava em minha mente, inúmeras vezes, como se
um bando de mariposas se chocasse contra uma luz invisível. Por fora eu
estava calmo, mas por dentro os pensamentos se agitavam. Ela era minha
esposa. Se entregara a mim de uma forma que pertencia somente a ela;
integralmente, apesar de tudo que nos separava. E agora estava disposta, mais
do que isso, ansiosa para entregar a única coisa que eu relutava ainda em lhe
tirar. Era tão difícil resistir. Eu queria me deixar levar pelo desejo, abraçá-la,
tocá-la, afundar meu corpo no dela; sentir o calor que emanava dela, fazê-la
sentir o prazer que ela queria sentir, que eu queria sentir, e muitas vezes essa
necessidade apagava todas as outras coisas. Mas era nesse momento de
abandono que a sede por seu sangue voltava tão forte quanto nas primeiras
vezes. Aquilo me enchia de medo. E se eu não conseguisse me controlar? Ela
era tão frágil. E tão teimosa. Não podia esperar. E eu não podia lhe negar
nada. Não depois de tudo que ela sofrera por mim. Assim, tomei todas as
providências que podia. Estava alimentado. A ilha nos daria a privacidade
necessária e a beleza que ela merecia para emoldurar aquele momento. Queria
que tudo fosse perfeito, inesquecível, mas ainda tinha medo. E sabia que ela
poderia ficar magoada facilmente caso se sentisse rejeitada. Bella... Ainda não
entendera que para mim não existia perfeição além dela.
Tudo isso se passava em minha mente enquanto a esperava, dentro do mar. A
temperatura era agradável, quente. Estava consciente de tudo: do mar prateado
pelo luar; do calor do ar úmido; dos ruídos da noite, dos grilos e insetos
tropicais, os pequenos animais que evitavam aquela região da praia,
percebendo a presença do predador. Porque Bella não conseguia perceber isso
da mesma forma? Ainda me perguntava isso todos os dias, admirado com sua
coragem, encantado com sua força e ousadia. Ao longe ouvia os sons que ela
fazia na casa. Ouvi quando se arrumou, os golpes lentos e rítmicos da escova
em seus cabelos, o barulho da água na torneira, depois o chuveiro ligado. Ouvi
seus passos quando se aproximou de mim, trazendo o cheiro marcante, doce e
vivo que eu tanto amava, quando entrou na água e se aproximou devagar.
Podia sentir a água formando pequenas ondas com a movimentação do seu
corpo. Podia ouvir sua respiração se acelerar um pouco, como sempre se
acelerava nos momentos de desejo e tensão. Senti vontade de sorrir, mas
estava muito tenso com o que estava preste a acontecer. Continuei de costas
para ela, as mãos flutuando na linha da água, esperando que ela tomasse o
primeiro passo. Que nos levaria para o desconhecido. E eu tinha certeza que
ela não hesitaria. Logo ela ficou imóvel, muito próxima. Eu estava olhando
para o céu estrelado, tentando me concentrar. Podia sentir o calor emanando
dela também em ondas. Eu sempre ficava muito consciente de sua presença,
fosse pelo calor, fosse pelo cheiro intenso. Mesmo assim, quando ela colocou
sua mão quente sobre a minha, fria, o mundo se transferiu para aquele ponto
onde nossos corpos se tocavam. Se era assim o simples toque de sua mão,
diante de tanta expectativa, o que não seria o resto? Será que enfim poderia
conhecer o êxtase do qual tantas vezes ouvira ao longo dos anos? Medo e
desejo se misturaram, deixando minha garganta seca.
“Linda”, ela disse, ao perceber que eu olhava para a lua, com sua voz grave e
um pouco rouca, mas também era como cristal, com um mínimo toque de
ansiedade. Ela também estava com medo. E também não sabia o que esperar.
Isso não facilitava as coisas.
“É bonito”, respondi, tranqüilamente, escondendo a tensão, fingindo uma
indiferença que eu não sentia. Era o melhor que poderia fazer no momento.
Me virei para olhá-la e vi, com uma certa surpresa, que estava nua, os braços
cruzados defensivamente sobre os seios, a postura tímida. O luar deixava sua
pele pálida e iridescente, causando um contraste indescritível com os cabelos
castanhos. Os fios caiam em mechas pelos dois lados do pescoço,
emoldurando o rosto. Os olhos estavam expressivos, e vi o brilho nas
profundezas escuras que eu tanto amava: amor, desejo, medo, hesitação,
expectativa. Como eu poderia corresponder a tantas coisas? Mas ela me
olhava em adoração. Eu não tinha como resistir àquele olhar.
“Mas eu não usaria a palavra linda, não com você aqui para comparar”. Era
verdade. Sempre foi. Ela ergueu a mão, ainda um pouco timidamente e a levou
até meu peito, enquanto sorria. O toque de seus dedos, de sua palma,
queimava minha pele, causando uma explosão de calor. Correntes elétricas se
espalhavam pelos meus braços até a ponta dos dedos. Seu toque sempre me
desconcertava, me levava a um estado de tensão e bem-estar incomparáveis.
Ela era fogo para mim. A vida que eu não tinha mais. Senti minha respiração
se alterar contra minha vontade, meu corpo estremecer lentamente. Seu cheiro
tinha se tornado mais intenso, mais delicado, mais saboroso. Ela ainda era um
mistério para mim.
Tantas sensações aumentaram minha prontidão, meu corpo se enrijeceu
minimamente. Ela pareceu notar. Aproveitei o momento para tentar mais uma
vez prepará-la – e a mim mesmo – para todas as possibilidades. A voz não era
mais do que um sussurro.
“Eu prometi que iríamos tentar... Se eu fizer alguma coisa errada, se eu
machucar você, você deve me dizer imediatamente”. Era uma ordem, não uma
pergunta. Eu tinha que deixar isso bem claro, porque ela simplesmente não
conseguia se conter. Esse papel sempre era meu. Ela assentiu, parecendo me
levar com seriedade. Deu um passo à frente, e encostou a cabeça no meu
peito. Pude sentir sua respiração quente contra minha pele, rápida, profunda.
Eu não queria magoá-la, não queria perturbar aquele momento que já era tão
complexo. Busquei algo para dizer que pudesse tranqüilizá-la. Mas ela foi
mais rápida do que minha mente.
“Não se preocupe”, sua voz era um murmúrio. “Nós pertencemos um ao
outro”. Aquelas palavras me emocionaram de uma forma indescritível, e
removeram uma parte do meu medo de forma mais eficiente do que todas as
minhas racionalizações. Suspirei profundamente, inalando o cheiro suave que
vinha dos seus cabelos, misturado com o cheiro intenso dela toda. Puxei seu
corpo para mais perto de mim, pousando minhas mãos em suas costas,
colando minha pele contra a dela com cuidado, me deliciando com o calor que
irradiava dela e do ambiente. Era a primeira vez que eu a tocava daquela
forma tão completa, e sorri levemente ao pensar que era apenas o começo.
“Para sempre”, foi tudo em que consegui pensar, antes de puxá-la mais para o
fundo da água. Naquele momento eu era apenas e somente uma parte dela.
[Bella]
Nada do que eu tinha imaginado em tantas noites insones poderia ter me
preparado para esse momento. Apesar de evitar pensar sobre isso, meu próprio
corpo rebelde tinha decidido ir até o fim o mais rápido possível. Eu não
gostava de pensar, me deixava embaraçada, mas o desejo que eu sentia por
Edward se tornava cada dia mais latejante, mais impossível de ignorar. As
noites insones se tornavam mais freqüentes, particularmente quando as coisas
entre nós ficavam mais intensas, e ele inevitavelmente parava, e se afastava.
Nessas horas meu corpo reclamava, pulsando, doendo, ardendo por uma
satisfação que me era desconhecida, sobre a qual eu só lera em livros de
biologia e romances. Mas aquela necessidade era real. E tão intensa, que, se
Edward pudesse ler meus pensamentos – e felizmente ele não conseguia –
talvez então ele conseguisse entender minha pressa, minha angústia.
E mesmo essa ansiedade, expectativa, necessidade... Nada disso tinha me
preparado para a fome que se apossou de mim no momento em que nossos
corpos se tocaram, livres das roupas pela primeira vez, no calor da água
morna. Todas as células do meu corpo estavam intensamente conscientes da
presença dele, do seu cheiro inebriante, da beleza perfeita e infinita do corpo
molhado e iluminado pelo luar. Tudo nele me atraía, para cada vez mais perto,
como se meu corpo quisesse se fundir ao dele, atingindo assim sua própria
perfeição. Eu só podia existir sendo parte dele. Eu pertencia a ele. E eu tinha
fome. Tinha pressa. Mas ele não. Nesses momentos a pressa não existia para
Edward Cullen. O tempo parecia se estender, se alongar. Nunca imaginei que
em um segundo cabiam tantas coisas, tanta realidade, tanto dele. Em câmera
lenta, Edward me levou junto a ele até um ponto mais profundo da praia, e
meu coração disparou enlouquecido. Ele não iria desistir, como eu temia.
Senti um pouco de culpa, a culpa familiar, sabendo que ele só estava fazendo
isso porque eu insistira tanto, sabendo que ele tinha medo das conseqüências,
muito mais do que eu, porque ele se responsabilizaria por qualquer coisa que
acontecesse. Mas esses pensamentos desapareceram assim que ele me
estabilizou em pé na areia, colou novamente seu corpo ao meu e buscou meu
pescoço com os lábios frios.
“Devagar agora, Bella,” eu ouvi sua voz rouca e entrecortada. “Eu quero ver,
conhecer você. Sonhei muitas vezes com isso.” As palavras foram
acompanhadas pelo deslizar de suas mãos pelas minhas costas enquanto os
lábios se colavam aos meus novamente. Fogo e gelo se mesclavam em mim;
era impossível não perceber como sua pele, lábios e língua eram frios ao
toque. A sensação de que eles queimavam sobre mim era de um prazer
inigualável, porém o rastro que deixavam ao mudar de lugar não era de frio ou
de dor, e sim de um calor impossível. Arrepios surgiam nos pontos em que ele
me tocava, e se alastravam pelo meu corpo, me causando arrepios e tremores.
Enquanto me beijava lentamente, saboreando cada toque, com paciência, as
pontas de seus dedos exploravam minhas costas da base da nuca até a curva
dos quadris. A língua percorria meus lábios sem pressa, entreabrindo-os e
tocando minha própria língua, fazendo movimentos de reconhecimento, de
invasão, o que espalhou um calor já familiar no centro de meu corpo, no
estômago, e entre as pernas. Ele arriscou uma leve mordida em minha língua.
Me senti desfalecer por alguns segundos, respirei mais profundamente,
buscando o ar que me faltava. Ele pareceu perceber, e parou por um momento,
pousando as palmas da mão em meus quadris, possessivamente. Ouvi sua
risada rouca e baixa quando gemi involuntariamente ao sentir que ele parava.
“Não se preocupe, amor,” ele disse, buscando meus olhos, o meio-sorriso torto
que eu amava tanto brincando em seus lábios. “Nós temos a noite toda”. E
dizendo isso, deslizou uma mão pela lateral do meu quadril até a minha perna,
novamente usando apenas a ponta do dedo. Fiquei novamente ofegante. Não
sabia se conseguiria agüentar tanta tensão, com certeza teria um ataque
cardíaco. Não sabia se conseguiria resistir a tanto prazer.
Dessa vez eu que me afastei um pouco, me descolando dele. Precisava de ar.
O meio-sorriso continuava em seu rosto perfeito. Resolvi me vingar da lenta
tortura, e um sorriso malicioso surgiu em meus lábios.
“Edward”, minha voz saiu entrecortada, me fazendo corar. “Pode se virar um
pouco, por favor?”.
Ele ergueu uma sobrancelha com expressão curiosa, mas não questionou.
Virou-se lentamente de costas para mim, deixando à mostra o dorso perfeito,
forte, esculpido em mármore. O mar escuro brilhava ao redor dele, que se
parecia ainda mais com um deus. Água escorria do cabelo e da pele molhada
criando riscos prateados na pele perfeita. Minha respiração aos poucos foi
voltando ao normal, e eu me aproximei dele com uma calma que não sentia, e
me encostei contra ele, colando meu peito em suas costas. O choque do frio de
sua pele contra a minha, fervente, me fez estremecer violentamente, e o
coração voltar a disparar. Já estava começando a lamentar aquele movimento
quando percebi que ele também estava reagindo com certa violência, a
respiração acelerada, pequenos tremores na pele, como calafrios. Senti meus
mamilos se enrijecerem contra a pele fria, e formigarem, ansiando pelo toque
de suas mãos. Mais uma vez agradeci por ele não ser capaz de ler minha
mente, e encostei meus lábios em seu pescoço, enquanto percorria seu peito
com minhas mãos espalmadas, de cima a baixo, me aproximando do ventre
liso, fazendo o inverso do que ele fizera comigo. A pele estava salgada,
úmida, e fui explorando a nuca com a língua, fazendo traços em direção à
orelha, e senti o corpo dele se enrijecer sob minhas mãos, enquanto eu
passeava com elas explorando cada pedaço pelo qual elas ansiavam. Percorri a
parte interna do braço, os ombros perfeitos, depois voltei até a ponta dos
dedos, que se entrelaçaram aos meus enquanto eu continuava o caminho com
os lábios. Decidi ousar um pouco, mordendo a ponta da orelha com cuidado,
apesar de saber que aquilo jamais o machucaria. O efeito, no entanto, foi
inesperado. Ele apertou minhas mãos com força, me fazendo gemer assustada
em protesto. Ele imediatamente me soltou e ficou estático, parado. Senti a
tensão mudar em seu corpo, para algo diferente.
“Desculpe, Bella. Machuquei você?” Ele tentou se virar e me encarar, mas eu
o segurei no lugar, e continuei com os lábios em sua orelha.
“Não, Edward. Só me assustei, não imaginei que você fosse reagir assim”.
Fiquei feliz por ele não conseguir ver meu rosto, intensamente ruborizado. Ele
pareceu relaxar, então.
“Você não tem idéia dos efeitos que está me causando, amor. Talvez mais
tarde eu possa tentar lhe mostrar”. Apesar de não ver seu rosto eu podia sentir
o meio-sorriso em sua voz. O sorriso que eu tanto amava. “Na verdade não vai
ser tão tarde assim. Em breve será minha vez”.
[Edward]
Ela realmente estava me surpreendendo. Claro que eu conseguia imaginar a
extensão do desejo que a consumia. Eu via isso em seus olhos, nos lábios
entreabertos, na respiração e nos gemidos, e tudo aquilo me levava à beira da
insanidade, como se sua paixão alimentasse a minha. Quando beijei seu
pescoço pela primeira vez naquela noite, tive que refrear a vontade súbita de
mordê-la, de beber sua vida até o final, de saciar aquela sede que muitas vezes
ainda surgia, apesar do controle que consegui desenvolver, de provar
novamente aquele gosto infinitamente delicioso que era o do seu sangue. Ela
podia ter esquecido que eu já a provara antes, quando fora mordida por James
e o veneno dele corria em suas veias, matando- a lentamente. Por isso podia
lidar tão calmamente com minha presença a seu lado, daquela forma tão
íntima. Mas eu não esquecera. As muitas fomes que eu sentia dela - de sua
presença, de seu corpo, de sua mente, de seu sangue, de seu prazer – se
mesclavam e me deixavam tonto, beirando a falta de controle. Aquela noite
me dava prazer e me feria, mas cada vez menos eu conseguia pensar em parar.
Eu só conseguia pensar em continuar. Décadas de auto-controle iam se
desfazendo sob suas mãos quentes, seu calor, seu cheiro, sua insensatez. Ela
era minha mulher, era minha. Porque não tomá-la, se era esse o seu, o meu
desejo? Eu conseguiria parar se a machucasse. Mas ela conseguiria?
Percebi que machucara um pouco suas mãos, eu era tão mais forte. Ela
esconderia, claro. Precisava de forças para conseguir reagir ao menor sinal de
dor, mas onde eu conseguiria essa força? Era hora de assumir o controle de
novo. As mãos de fogo passeando por meu peito, chegando ao meu centro
estavam me enlouquecendo, seus lábios em minha orelha impediam meus
pensamentos coerentes. A vontade de prolongar tudo lutava contra a vontade
de chegar ao final de tudo, e nós precisávamos de mais tempo. Era muito risco
a se correr por alguns segundos de satisfação. E ela merecia mais do que isso.
Eu também.
Tudo isso eu pensava enquanto ela retomava o passeio das mãos por meu
corpo, incluindo agora as costas; ela se afastara um pouco após minha reação,
para testar meu ânimo. Bella temia muito que eu parasse, e uma parte cada vez
menor de mim, é verdade, ainda não queria estar ali, gritava que era perigoso
demais, que nunca fora tentado antes, que eu não tinha experiência e controle
suficientes. Ao mesmo tempo meu corpo já sentia a ausência do seu calor em
minhas costas, da pressão dos seios delicados contra minha pele. Eu sempre
queria mais dela.
Assim, segurei suas mãos enquanto desciam pela parte interna das minhas
coxas, e as trouxe até meu peito novamente. “Seu tempo acabou, Isabella
Cullen. Minha vez”. Não consegui evitar o sorriso ao ouvir o nome. Virei para
ela e olhei profundamente em seus olhos. Ela sorria levemente, o olhar
novamente tímido.
“Feche os olhos”, ordenei. Ela obedeceu rapidamente, mordendo os lábios
devagar. Apoiei uma mão em suas costas – ela ofegou, surpresa, e com a outra
apoiei a parte de trás de suas pernas, e a fiz flutuar. A água nos deixava leves,
e em pouco tempo ela estava boiando na linha da água, e eu pude ter enfim
uma visão completa de seu corpo. Bella não tinha uma beleza clássica, ou
gritante. Mas as linhas e curvas eram suaves e proporcionais, e tinham uma
graça particular, apesar dos gestos impensados, impulsivos e desajeitados.
Tudo isso a tornava ainda mais linda. O rosto era particularmente atraente,
nobre. As pernas eram bem-feitas, alongadas, e o quadril sinuoso. O cabelo
tinha um tom de seda marrom envelhecida, um mogno perfeito, e os olhos
castanhos assumiam um tom âmbar na luz. Ela seria estonteante se um dia se
tornasse uma de nós. O que estava acontecendo comigo? Ela já estava me
fazendo considerar a idéia com mais facilidade? Percebi que ela corava sob o
meu olhar, e agi antes de lhe causar desconforto. Mantendo seu corpo
flutuando, me abaixei um pouco e me aproximei do ventre liso. Ela quase caiu
das minhas mãos quando meus lábios alcançaram a pele suave perto do
umbigo, se debatendo um pouco, enquanto tentava se lembrar de como
respirar, e nisso ela era tão Bella! O sorriso em meus lábios se ampliou, a
tensão deixando um pouco meus músculos.
“Oh, Edward”, ela gemeu quando eu a segurei no lugar e comecei a subir com
a boca em direção aos seios. Pequenos espamos a sacudiram enquanto minha
boca procurava, alcançava e provocava os pontos mais sensíveis. Ao mesmo
tempo em que meus lábios subiam novamente para o pescoço, mergulhei seu
corpo novamente na água quente, para evitar que sentisse frio. Quando ela
ficou em pé novamente na água me encostei todo nela, e desci as mãos
novamente para suas coxas, entreabrindo-as. Ela ofegou em meu ouvido, e eu
encontrei novamente seus lábios em um beijo intenso, devorador, enquanto
minhas mãos a tocavam cada vez mais fundo, encontrando calor, umidade e
aceitação. Ela separou as pernas por reflexo, e eu a explorei longamente,
aprendendo todos os pontos sensíveis, observando suas reações, seus suspiros,
os arpejos da respiração descoordenada, dando tempo para que ela se
acostumasse com a intimidade, e ao mesmo tempo devorando sua boca com a
minha, invadindo-a duplamente. Em um determinado momento ela explodiu
em tremores, e sua respiração cessou por alguns instantes. Um sorriso
iluminou meu rosto enquanto eu a apertava contra mim, ouvindo os gemidos
baixos e suaves que eram como música enquanto ela repetia meu nome.
Quando ela parou de estremecer eu ergui seu rosto com as duas mãos, e a
olhei mais uma vez. Eu nunca cansava de olhar para ela. Suas pupilas estavam
dilatadas, a boca entreaberta respirando rapidamente, o corpo se recuperando
aos poucos do êxtase. O rosto estava corado, e naquele momento a sede por
ela ficou insuportável. Eu me afastei um pouco, enquanto travava todos os
músculos do corpo. Ela me olhou confusa por uns segundos, e pareceu
compreender. Ficou em silêncio, me observando, enquanto eu recuperava o
controle aos poucos.
“Eu te amo, Edward”, ouvi a voz rouca e macia. “Não tenha medo, você não
vai me machucar”. Ah, como eu queria ter essa confiança! Até agora estava
tudo indo bem, mas o teste final ainda estava longe, e por duas vezes eu tive
que parar. O que fazer se não conseguisse mais?
Mas então ela se colou a mim novamente, a boca devorando meus lábios, suas
mãos por todo o meu corpo, como se a pequena experiência de instantes atrás
tivesse apenas despertado ainda mais a fome intensa que ela sentia, e todos os
pensamentos fugiram de minha mente mais uma vez. Só o que havia era o
calor daquela mulher. O calor que aumentava a cada segundo, me carregando
para longe de tudo.
[Bella]
Quando ele segurou meu rosto com as palmas das mãos frias e olhou para
mim, o mundo voltou a girar. Antes tudo estava parado: o mundo, minha
mente, meu corpo, meus nervos, meu coração. Tudo estava envolto em uma
névoa de lassidão, parecia ter deixado de existir, e voltava ao foco lentamente.
Meu corpo havia se preparado para aquilo antes, e se frustrado inúmeras
vezes, quando ele interrompia as noites em que estávamos juntos nos
momentos mais intensos. A ausência de frustração, a necessidade preenchida,
o calor que ele me fizera sentir, apesar do frio de suas mãos... Naquele
momento eu deixei o planeta, e fui parar em algum outro lugar onde não
existia mais nada a não ser Edward. Como se isso fosse possível. Alguns dos
romances descreviam o clímax como “a pequena morte”, principalmente os
franceses. Acho que agora eu entendia o porquê; era mesmo uma experiência
de quase morte, da qual eu voltei com relutância, com medo de que alguma
coisa pudesse dar errado fora daquele ninho de sensações extasiantes.
Mas era ele quem me trazia de volta, com seu toque gélido, seus olhos cheios
de paixão. Era ele quem me fazia esquecer a súbita timidez que vinha da
minha falta de roupas. Que fez com que eu me sentisse uma pessoa completa.
Olhei para ele e senti que meu coração poderia explodir com tantos
sentimentos, eu não sabia na verdade como eu ainda conseguia viver ao lado
dele. Era de se esperar que eu já tivesse morrido ou algo assim. Morrido de
amor. Seria poético e adequado.
E então suas feições – sempre perfeitas, eternizadas naquele rosto adolescente
dos meus sonhos – suas feições se modificaram. Eu vi seus lábios se
entreabrirem como se ele estivesse com sede; os dentes afiados visíveis ao
luar. Os olhos se nublaram por uns instantes e ele não estava exatamente ali;
aquilo me assustou, pois eu nunca o vira antes daquela forma. Naquele
momento ele era exatamente o predador perigoso contra o qual ele sempre me
alertava, que sempre o preocupava. E então ele voltou, e se afastou de mim.
Me senti solitária. Soltei o suspiro que estava prendendo, e o observei
procurando alguma reação, alguma pista de como ele estava se sentindo. Ficou
imóvel como uma estátua, olhando para o horizonte. Depois olhou para mim
com uma expressão vaga e distante.
Eu precisava dizer algo, e foi o que meu coração sentia como verdade
absoluta.
“Eu te amo, Edward”. Era verdade absoluta. “Não tenha medo, você não vai
me machucar”. Para mim aquilo também era verdade. Eu apenas não podia
acreditar que ele pudesse me ferir. E caso acontecesse... Descobri naquele
momento que estava disposta a morrer se fosse por suas mãos, seus dentes,
sua boca. Então eu seria completamente dele. Sei que isso era errado, insano,
mas quantas coisas não haviam sido desde que nossa história começara...?
Seria apenas o desfecho perfeito para o estranho amor entre um vampiro e
uma humana.
Ele me olhou novamente, e só nós dois existíamos no mundo. Ele me olhou
como se estivesse me descobrindo pela primeira vez; eu sentia como se fosse.
Reconheci também em seu olhar aquele sentimento que eu temia ver desde o
início: medo de me perder, dúvida. Ele estava hesitando.
“Bella”, ele começou a dizer, mas eu o silenciei com um beijo que nunca me
permitira antes. Não havia palavras para dizer a ele tudo que eu queria, então
cruzei dedos imaginários na minha mente e torci para que meu corpo
conseguisse transmitir toda a confiança, toda a vontade que eu tinha, o quanto
aquilo tudo estava sendo importante para mim. Ele, que sempre era tão mais
rápido, mais forte, mais perceptivo, mais resistente... Saber que eu tinha o
poder de quebrar seu controle nos deixava em pé de igualdade. O amor se
tornava um campo de batalha no qual tínhamos forças parecidas. Naquele
momento, em que eu o conduzia pela mão e o fazia sentir humano mais uma
vez, nós éramos iguais. E talvez ele nunca pudesse entender como isso
explicava minha insistência em que tivéssemos ao menos essa noite, antes de
minha transformação. Era egoísta de minha parte, trazer sofrimento a ele, mas
aquilo nos nivelava. E só assim eu podia sentir que tinha valor na vida de
Edward Cullen. Só assim eu podia entrar naquele universo com ele feliz em
ser apenas a mortal, frágil e indefesa Bella Swan, e sentir que tinha algo a
oferecer àquele ser que não precisava de mais nada.
O beijo, que pretendia dizer tantas coisas, acabou se tornando uma tempestade
de calor e frio, enquanto o desejo de me tornar completamente dele voltava
com força redobrada, levando minhas mãos a deslizar por seu corpo invernal
com uma ousadia que me deixou novamente corada. Aquilo me surpreendeu e
me assustou, e desta vez, apesar do abandono pleno de Edward, que devorava
meus lábios e língua com igual intensidade, eu me afastei, buscando ar.
Mas não era ar que eu queria. Eu queria certezas. Apenas o que eu não podia
ter...
“Bella, amor, o que houve? Você está bem?” A preocupação que havia na voz
dele, tão familiar, me doeu. Eu não queria estar fazendo isso desta forma,
coagindo a pessoa que eu amava acima de mim mesma. Eu queria que ele se
sentisse bem, sem culpa. Será que seria impossível?
Ficamos por um tempo buscando, no olhar do outro, respostas para perguntas
silenciosas. Até que me afastei dele um pouco mais, nadando com braçadas
lentas até mais perto da margem da praia. Até um ponto em que pudesse me
sentar, sentindo as pequenas ondas mornas se chocarem contra minha pele. A
lua subira no céu, eu não sabia mais que horas eram, o tempo se tornara uma
coisa fluida, intangível. De certa forma eu queria e não queria que aquele
momento durasse para sempre.
“Bella?” A ansiedade na voz de Edward se tornou mais perceptível. Como eu
queria tirar aquela ansiedade dele para sempre! Não ser um objeto de
preocupação eterna... Eu sabia que estava estragando o clima, mas não
conseguia controlar os pensamentos, e mais uma vez, eu senti que estava
prestes a arruinar tudo. Porque isso acontecia comigo? E justo nesse
momento? Eu sempre estragava tudo.
Não consegui responder, porque não consegui nem mesmo aceitar que minha
mente estivesse tendo uma crise de consciência naquele momento, depois de
tudo que já acontecera, mas talvez fosse exatamente o momento certo, antes
que algo mais acontecesse.
“Bella, o que houve?” De repente ele estava ao meu lado, guardando certa
distância. “Fale comigo. Não está arrependida, está?” Os olhos agora
transbordavam algo que beirava o pânico, e eu não pude mais pensar, ou me
conter. Estendi as mãos para ele, que entrelaçou os dedos nos meus, me
devorando com os olhos, tentando alcançar meus pensamentos, mas
impotente.
De repente tudo que eu estava pensando veio à tona, não consegui mais
segurar as palavras. Disse tudo que pensara nos últimos instantes. Sobre a
preocupação constante. Sobre eu ser algo único na vida dele. Sobre o amor ser
na verdade um campo de batalha. Ele ouviu tudo em silêncio, com um ar
solene. E por fim, disse a ele que não queria nada que ele não quisesse
inteiramente. Que se ele ainda tivesse alguma dúvida, qualquer uma, eu não o
forçaria mais a continuar, independente de qualquer acordo prévio, porque eu
sabia que ele estava passando por sofrimento demais para me dar aquele
momento. E que eu não me importava em morrer em seus braços; o que me
importava era saber o que quão horrível ele se sentiria se algo me acontecesse.
Quando terminei, houve um período de silêncio. Dei tempo a ele, que ficou
imóvel, pensativo, enquanto eu me apercebia novamente da beleza do
ambiente ao redor. Apesar da água morna, uma brisa fresca começou a soprar
do norte, e o ar fresco contra minha pele molhada me causava arrepios. O
cheiro da brisa era salgado, me lembrava um pouco a brisa da praia em La
Push. Outra vez agradeci mentalmente por ter um cérebro torto e inacessível a
Edward. La Push sempre me lembrava Jacob, e aquele momento era bem
inconveniente. Mas a lembrança desta vez não trazia nada além de um pouco
de paz, como ecos de uma onda distante que nos embala sem causar grandes
distorções na superfície.
Senti a mão de Edward em meus cabelos molhados, afastando-os do meu
rosto. Senti a ponta dos dedos frios traçarem as linhas do meu queixo, virando
meu rosto para olhar para ele.
Sua expressão estava serena. Mais do que isso, seus olhos brilhavam com o
reflexo do luar, e eu pude ler neles a extensão do seu amor. Só aquilo já me
encheu de alegria. Ele poderia até desistir. Eu não me importaria mais. Só o
que me importava era estar com ele.
“Bella”. Eu amava o jeito com que ele sussurrava meu nome. Ele encostou a
testa na minha, e ambos ficamos de olhos fechados, mãos entrelaçadas. “Você
tem idéia de como representa tudo na minha vida desde que entrou nela?”
“Bem, tenho certeza de que ela ficou um pouco mais movimentada”, eu
respondi, tentando brincar.
“E você tem idéia de que eu quero que esta noite aconteça tanto quanto você?
Ou até mais? O quanto eu quero que você seja completa, inteiramente
minha?” Bem, isso eu não tinha certeza. Fiquei em silêncio. Ele prosseguiu.
“Acho que agora consigo entender você melhor. Entender porque isso é tão
importante para você. Que não é só capricho ou inconseqüência. Porque” – ele
me interrompeu antes que eu pudesse responder – “isso é perigoso, Bella. Eu
preciso que você saiba disso, de toda a extensão do perigo que você está
correndo. Você sabe disso, não sabe?”
Me lembrei do olhar vago dele, os dentes brilhando ao luar. Estremeci. Acenei
com a cabeça, a boca subitamente seca.
“Então você entende os riscos envolvidos. E mesmo assim pretende ir até o
fim?”
Acenei novamente. Edward conseguia ser formal mesmo nessas horas, os dois
sem roupas, sentados no mar, em uma praia deserta de uma ilha tropical.
Ele suspirou. Mas depois sorriu, o meu sorriso torto; discreto, mas estava lá.
“Então acho que temos que tomar um banho, Sra. Cullen, e fazer isso direito.
Temos uma cama nos esperando. Eu tenho quase certeza de que amanhã eu
vou me arrepender, mas vou esquecer as preocupações por uma noite. É tudo
que eu garanto no momento”
Foi minha vez de sorrir, um sorriso iluminado. “Tenho certeza que vai ser
suficiente”. Ele então me tomou novamente nos braços e me carregou para
dentro da casa, enquanto eu tremia de frio, amor e expectativa.
[Edward]
Parte I
Era incrível como Bella sempre me surpreendia. Além de não ter a menor
certeza da importância que tinha em minha vida, conseguia fazer com que o
amor que eu sentia por ela aumentasse cada vez mais, com gestos simples,
com palavras inesperadas. Sempre que eu achava impossível que meu coração
comportasse mais coisas, ela aparecia com alguma surpresa que me pegava
desprevenido.
Foi assim naquele momento em que ela confessou o que estava pensando de
forma tão pouco calculada, embora ela sempre fosse mesmo muito
transparente. Eu estava me preparando para algo diferente, por causa da
reação inesperada que ela tivera durante o beijo, e ela terminou por me dar a
opção que eu sempre quis que ela me desse: a de não passar pelo tormento de
estar com ela e terminar por feri-la no processo.
Não foi uma decisão fácil de tomar. Ter algo muito precioso nas mãos e
decidir correr o risco de perdê-lo, podendo aguardar um pouco para poder
desfrutar dele de forma mais segura, mais completa... Que tolo faria isso a não
ser alguém muito apaixonado... como eu? Mas agora que ela verbalizara seus
pensamentos, as coisas se tornavam mais claras, e justificavam melhor o risco.
Ela era humana. Queria essa experiência. Queria me dar essa experiência. Que
eu tivesse como retirar dela tudo o que podia me dar, antes de mudar para
sempre.
Aos poucos o pânico foi se dissolvendo da minha mente, e a vontade que
sentia por ela aumentou, apagando o resto das minhas dúvidas
temporariamente. Aquilo aumentou também minha confiança no meu
controle. Talvez se eu me entregasse ao que sentia ao invés de lutar contra; se
conseguisse canalizar a força de meu desejo ao invés de combatê-la...
E assim, ao invés de desistir, de confessar que não confiava mais no meu
autocontrole, eu a trouxe para a casa em meus braços, tentando não segurá-la
muito perto para que não sentisse frio. Enquanto carregava seu corpo leve,
continuava a devorá-la com os olhos. A espera havia demorado muito, e agora
eu me permitiria desfrutar do que nos fora negado por tantos meses.
Intimidade absoluta.
Levei-a direto para o banheiro, mantendo as luzes apagadas. Eu não precisava
de luzes, enxergava muito bem no escuro. Deixei-a em pé em frente ao
chuveiro e sorri, mesmo sem saber se ela conseguia ver. Abri uma das
torneiras e deixei a água quente, o máximo que poderia estar sem que ela se
queimasse, e beijei sua testa de leve.
“Bella, amor. Se esquente um pouco, eu já volto. Você deve estar gelada a
essa altura.”
“Um pouco”, ela concordou, enquanto deslizava com cuidado para dentro do
chuveiro. Senti que ela relaxava ao contato da água quente, e lutei contra a
vontade de me juntar a ela naquele mesmo momento. Tinha ainda algumas
coisas a preparar.
Parte II
Voltei ao banheiro poucos minutos depois. Ela estava encostada na parede,
que era de granito, deixando a água quente escorrer pelas suas costas. Parecia
bem, grande parte da tensão dissolvida pelo calor e pressão da água, que era
bem forte. O ambiente se enchera de vapor, criando uma névoa densa, e ali o
cheiro dela ficava um pouco mais leve, quando misturado a tanta água no ar.
“Você tem alguma idéia de como é irresistível?” Eu perguntei, enquanto
entrava no chuveiro, e me colocava entre ela e o jato de água, esquentando
também meu corpo. Ela se virou, e ergueu a cabeça ao olhar para mim.
Busquei seus lábios com os meus com gentileza, testando seu humor. Era
sempre imprevisível para mim. Ela me beijou de volta devagar, tocando meus
lábios com a ponta da língua, fazendo caminhos, sem pressa. Eu amava essa
nova faceta dela, que estava sendo despertada aos poucos, essa confiança, essa
falta de timidez. Ela estava deixando a adolescência cada vez mais rápido. E
nunca me pareceu mesmo uma adolescente; Bella sempre fora mais madura do
que as outras garotas de sua idade. Isso compensava o excesso de timidez e
insegurança que eram típicos dela. Eu amava sua seriedade, seu senso de
responsabilidade, de conseqüência, a forma como se preocupava com sua
família e com o bem-estar de todos, principalmente comigo, que tanto a fizera
sofrer. Amava até mesmo seu silêncio, quando estávamos na escola, enquanto
todos riam, brincavam e faziam barulho. Aquilo a aproximava de mim.
Aproveitei que o beijo a estava deixando sem ar e parei um pouco. Olhei em
volta; o lugar onde ficava o chuveiro era enorme, as paredes eram todas de
granito claro, ao lado tinha um pequeno jardim de inverno com folhagens e
um banco de pedra. Levei o que trouxera na mão até lá, puxando-a pela
cintura, sem desligar o chuveiro, o vapor funcionava como uma sauna,
esquentando o ambiente. Senti um cheiro leve de suor, que vinha dela e
melhorava ainda mais seu perfume, deixando-a ainda mais viva, mais
saborosa. Sentei no banco de pedra e coloquei uma toalha que molhara com
água quente em meu colo, para diminuir o choque de temperatura. Fiz com
que ela se sentasse sobre minhas pernas de costas para mim. Afastei os
cabelos molhados, empurrando-os para a frente, deixando a visão plena de
suas costas nuas. Comecei a deslizar as mãos pelas costas molhadas, sentindo
os músculos se contraindo a cada toque. Eu queria que ela relaxasse, mas
estava surtindo o efeito contrário.
Me inclinei para a frente, até que estivesse perto de sua orelha. “Bella,”
sussurrei, “relaxe, não vamos ter pressa”.
“Não quero relaxar”, ela resmungou, com um toque de diversão em sua voz.
“Na verdade meu corpo é quem não quer, eu não consigo evitar”. Agora eu
ouvi o sorriso em sua voz, junto ao suspiro lento. Era melhor assim. A
tempestade de suas emoções aparentemente estava se dissolvendo.
“Vamos resolver isso. Parece que Alice tinha algumas sugestões a nos dar,
encontrei algumas delas espalhadas pela casa.”
“Ah, não!” ela respondeu, um pouco constrangida. “Aqui também?”
“Como assim também?” Provoquei. Imaginei que minha irmã teria reservado
algumas surpresas para o guarda-roupa de Bella, mas não quis tocar no
assunto, pois sabia o quanto aquilo a deixava envergonhada.
“Hum. Nada, você sabe como é a Alice. Sempre dando muitas sugestões.”
“Concordo. Mas devo admitir que gostei delas, dessa vez. Quase tanto quanto
gostei do seu vestido de noiva.”
“Ah.” Ela não conseguiu encontrar mais nada para dizer. Devia estar
terrivelmente vermelha. Confesso que para mim também era estranho estar
com ela daquela forma, mas estava encantado com as descobertas. Tantos
anos ouvindo comentários e piadas internas de Jasper e Emmet; finalmente eu
podia entender algumas coisas por mim mesmo, sem precisar ficar sondando
os pensamentos alheios, ou recebendo informações da vida íntima deles
mesmo quando eu não queria.
E também... Era a primeira vez que eu amava tanto alguém assim. Queria que
tudo fosse perfeito. E como ela nunca tinha feito isso com ninguém antes... Eu
sabia o quão desconfortável poderia ser para ela se eu não tomasse cuidado.
“Seus olhos estão fechados?” Perguntei a ela.
“Sim.” Ela repondeu, um pouco desconfiada.
“Então eu quero que você relaxe. E eu quero conhecer seu corpo. Se – se você
me prometer que não vai se descontrolar. Promete?”
“Não.”
“Essa é a minha Isabella. Eu gosto do seu nome assim. Bella é lindo, mas
Isabella é mais clássico. Combina com você. Posso começar?”
“Aham”. Senti que o corpo dela estava tenso de novo, em antecipação. Dei
uma risada rouca. De repente fiquei novamente muito consciente do corpo
dela junto ao meu, sentada em meu colo... Seria muito fácil apenas afastar a
toalha, me mover para junto dela, dentro dela. Mas não queria que fosse
assim. Afastei os pensamentos em outra direção, e passei de novo as mãos
pelas costas nuas, só que agora para espalhar um líquido que Alice deixara em
um frasco no armário do banheiro. A substância era oleosa, com um perfume
bastante agradável, e segundo a nota que ela deixara vinha de plantas e flores
que cresciam na ilha. Ela deixou escapar um gemido.
“Não sabia que você também entendia dessas coisas,” ela comentou, com a
voz baixa e entrecortada.
“Com você eu sempre tento ser muito humano, você sabe. Além disso,
Carlisle é médico, ele me ensinou algumas coisas. E assisto filmes de vez em
quando.”
“Que tipo de filmes você anda assistindo, hein?” ela perguntou, enquanto
meus dedos iam encontrando pontos de tensão nos músculos e desfazendo
devagar, com cuidado. Qualquer força a mais que eu usasse poderia machucála.
Ela não sabia que isso também era um exercício para que eu soubesse até
onde poderia ir.
“Você se surpreenderia,” respondi, provocando.
“Edward! Você não andou assistindo...” Ela não conseguiu terminar a frase, e
não consegui conter as risadas. Depois que terminei de explorar suas costas,
passei para os braços, me demorando na parte interna, onde a pele era mais
sensível. Senti que a respiração dela e o coração iam se acelerando. Quando
isso acontecia, eu parava. Ela se manteve o quanto pôde dentro da promessa
de relaxar, mas eu sabia que estava ficado cada vez mais difícil. Eu ia
saboreando suas reações, encantado; o óleo e o vapor camuflavam seu cheiro,
tornando fácil a parte de me controlar; fiz uma nota mental para agradecer a
Alice depois.
Quando terminei com os braços desci para as pernas, ela permanecia sentada
em meu colo, então mudei de posição e a coloquei deitada de costas no banco,
sobre a toalha, e me ajoelhei ao lado dela enquanto deslizava as mãos pelas
pernas de cima a baixo até os pés, memorizando cada detalhe, cada
imperfeição, cada dedo, a textura da pele, a firmeza dos músculos, as curvas, a
delicadeza, a fragilidade dela sob minhas mãos. Percebi que algumas vezes a
toquei com muita força, ela não reclamava, mas eu percebia; aos poucos fui
aprendendo o que tinha que fazer, a pressão que podia usar, a forma que ela
mais apreciava. O Leão e o cordeiro. Mas dessa vez era o próprio cordeiro
quem se sacrificava. Se bem que, eu tinha que admitir, ela estava gostando
bastante. Não parecia um grande sacrifício... Por enquanto.
Evitei outras áreas propositadamente, antes que o controle nos fugisse. A noite
ainda era uma criança, e aparentemente a satisfação que ela alcançara
enquanto estávamos na praia havia diminuído um pouco sua urgência. Quando
me dei por satisfeito, ergui-a novamente, e a levei até o chuveiro, para que
retirasse o excesso do óleo. Ao ver a expressão de prazer em seu rosto não
consegui me conter, colei meu corpo no seu, sentindo a pele dela deslizar
contra a minha, e a beijei até ficarmos ambos sem fôlego nenhum, enquanto as
mãos delas deslizavam por mim já com certa desinibição; sem fôlego era
modo de dizer, já que eu não respirava, mas meu peito queimava, e a boca
ardia de desejo, seca. Quando falei, as palavras saíram com dificuldade,
entrecortadas.
“Bella... assim... nós vamos... acabar pulando as etapas.”
“Etapas?” Foi só o que ela conseguiu balbuciar, enquanto colocava a mão no
peito, como se estivesse sem ar depois de correr por muitos metros.
“Você vai gostar. Vai ficar quietinha?”
“Ei! Eu não fiz nada dessa vez! Você me agarrou!” Ela protestou, e estava
certa. Eu é que havia me adiantado.
“É verdade. Vamos, então?”
Envolvi Bella com a toalha úmida, retirando o excesso de água da pele e dos
cabelos, e a carreguei mais uma vez, até o quarto. Em meus pensamentos,
torcia para que tudo desse certo até o final.
[Bella]
Bem, eu podia estar em silêncio, como sempre, sem palavras como sempre,
mas isso não significava que eu não estava com a mente em um turbilhão de
palavras, sentimentos e sensações como nunca antes em minha vida. E era
sempre ele quem causava isso, Edward, o meu deus particular, perfeito, o
vampiro perigoso e apaixonado dos meus sonhos. Estar vivendo aquilo com o
qual eu tanto ansiei era indescritível. E quando eu achava que não podia ficar
melhor, ficava. E ele ainda dizia que tinha outras coisas guardadas... Se eu não
enlouquecesse completamente naquela noite, isso nunca mais aconteceria. De
certa forma as dúvidas e inseguranças tinham ficado para trás; naquele
momento só nós dois existíamos. Eu, deitada ali, com as mãos firmes e
geladas dele escorregando pelo meu corpo todo, me esforçando como nunca
para cumprir a promessa de relaxar, entre os arrepios, calafrios e espasmos
que me ameaçavam cada vez que ele chegava perto de algum ponto mais
sensível, e que em determinado momento parecia ser meu corpo todo. Às
vezes minha mente perdia a concentração e eu achava que iria pular em cima
dele a qualquer instante, esquecer todo o resto e consumar aquilo que meu
corpo pedia, implorava. A espera, a antecipação, a expectativa, tudo se
condensava em uma dor física que atingia meus pontos mais vitais. Mas eu me
controlei e forcei a mente a se acalmar, e o corpo foi realmente relaxando sob
o toque dos dedos frios, sob o reconhecimento gentil dele de como era meu
corpo. Aproveitei o momento de calma para realmente olhar para ele pela
primeira vez em sua plenitude, ajoelhado ao meu lado.
Apesar da falta de luz, um pouco do luar se infiltrava por janelas de vidro
estrategicamente colocadas em vários lugares da casa, e eu podia ter uma
visão do corpo perfeito, dos músculos bem desenhados e rijos, sem uma
cicatriz, sem uma imperfeição. O rosto mostrava a concentração dele em meu
próprio corpo, e pela primeira vez não me envergonhei. Eu pertencia a ele. Era
natural que ele estivesse curioso... Mais até do que eu. Quando ele retirou a
pulseira do meu braço eu me perguntei o que ele pretendia dizer com aquele
gesto, mas a curiosidade foi suplantada por uma certeza; não importava nada
do que eu havia sentido por Jacob no passado; naquele momento eu era
completamente dele, e nada mais poderia me afastar do agora e de toda a sua
imensidão. Eu sempre pertenci a Edward Cullen, e pertenceria para sempre.
Aquela noite era apenas uma confirmação disso.
Quando ele me carregou para o quarto, pediu que fechasse os olhos; obedeci.
Senti, ao chegar, que o quarto tinha um pouco de claridade, ele devia ter
ligado alguma luz. Edward me sentou delicadamente na cama, e eu senti o
calor que emanava do ambiente, como se um aquecedor estivesse ligado... A
falta do corpo frio dele, quando ele se afastou, foi sentida imediatamente; uma
linha fina de suor se formou em minha testa. Ouvi um som discreto de vidro e
líquido, e em poucos segundos ele se sentou ao meu lado, encostando o corpo
no meu, aliviando o calor.
“Pode abrir os olhos”, ele disse. Quando eu abri, fiquei sem palavras. O quarto
brilhava com uma infinidade de velas acesas dentro de candelabros de vidro, e
o calor que emanava das pequenas chamas impedia que eu sentisse tanto frio
ao lado dele. Ele tinha deixado uma garrafa de champanhe na mesa de
cabeceira ao lado dele, e duas taças cintilavam à luz das velas, já cheias pela
metade. Ele sorria.
“Acho que não aproveitamos muito bem nosso brinde de casamento, Sra.
Cullen. Que tal repetir?” Ele me estendeu uma das taças, e segurou a outra.
Seus olhos estavam solenes e brincalhões ao mesmo tempo; como eu amava
aquilo! Malicioso, também. Percebi que seus olhos percorriam meu corpo em
relances.
“Acho que seria apropriado”, eu respondi, corando.
Ele inclinou o corpo na minha direção, trazendo a taça perto da minha. E ao
que você deseja brindar, Bella?”
Pensei um pouco, enquanto me deliciava com o hálito doce que emanava dele,
melhor do que qualquer champanhe. “Ao que seria mais óbvio?”, perguntei.
Minha voz estava rouca, e eu senti sede.
“A nós, eternamente.” Ele respondeu como se tivesse lido meus pensamentos.
Corei mais violentamente ao ouvir aquelas palavras finalmente ditas e se
transformando em realidade...
Nossas taças se tocaram em um movimento rápido, e eu, como sempre,
desastrada, fiz metade do líquido de minha taça se derramar sobre mim. Fiz
menção de me secar com um dos lençóis da cama, mas Edward me impediu.
“Espere. Você sabe que eu não aprecio muito o gosto das bebidas mesmo... O
mais divertido não é o que estou bebendo no momento, mas como,” e deu um
sorriso absolutamente diabólico, antes de se inclinar sobre mim para provar
com a língua as gotas que escorriam por meu corpo. Tive que me segurar para
não pular mil vezes com o toque frio deslizando por mim; sentia o rosto
pegando fogo. Quando ele terminou, eu estava com a respiração totalmente
instável, e com certeza estava tendo uma arritmia, porque eu sentia que às
vezes meu coração esquecia de bater. Ele me manteve o tempo todo sentada,
com as pernas entreabertas, para que pudesse ter acesso a todos os lugares por
onde o champanhe escorrera. Não sei como não desmaiei. Talvez tenha
desmaiado sem perceber.
Ele se sentou novamente, sorrindo.
“Delicioso. O melhor brinde que eu já fiz. Você tem que tomar o seu”, e então
ele encheu minha taça novamente até a borda, e me entregou. “Beba tudo.
Quero ver o que acontece”.
“Como assim?” Perguntei desconfiada. Ele apenas riu, um riso quente. Fiquei
quieta esperando uma resposta.
“Álcool é um inibidor químico. Só que a primeira coisa que ele inibe no
organismo humano são os inibidores naturais, que reprimem vocês. Por isso
vocês ficam relaxados e desinibidos quando bebem. Acho que vai ser bom,
afinal eu quero você completamente desinibida. Já que vamos aproveitar...” E
dizendo isso, ele piscou um olho, o rosto transbordando sugestões.
“Ei, eu não costumo beber, você sabe! Posso passar mal...” Tentei escapar da
experiência, mas minha própria voz não tinha muita convicção. Eu estava
começando a achar a idéia atraente, apesar de pensar que gostaria de passar
pela experiência o mais sóbria possível...
“Eu cuido de você. Vá, seja uma boa menina. Tome tudo”, e novamente me
estendeu a taça. Dessa vez encarei o desafio, e bebi tudo de uma só vez. O
calor do álcool explodiu em minha garganta, me levando às lágrimas e me
fazendo tossir. Que romântico. Onde eu estava com a cabeça? Nunca bebera
assim na minha vida, exceto um ou dois goles em alguma comemoração. Ele
sorriu e encheu a taça de água. Me entregou. Bebi rapidamente, por causa da
sede. Depois ele encheu novamente com mais champanhe. Inspirou
profundamente, sentindo o aroma da bebida.
“É bom”, ele disse. “Mas nem se compara com você. E é melhor quando está
derramado na sua pele. Aí fica quase perfeito”.
“Quase?” Me perguntei em que poderia melhorar.
“É, quase. Só é perfeito quando não tem nada em cima de você para
atrapalhar. Mas aí é mais difícil eu me segurar...” ele disse em tom casual,
como se as conseqüências de ele não se segurar não fossem nada demais. Era
intrigante e ao mesmo tempo um pouco assustador conviver com aquele lado
despreocupado de Edward. Afinal, ele era o predador.
Ele me entregou a taça e eu bebi novamente fazendo uma careta. O gosto era
amargo e desconhecido, mas começou a me causar um bem-estar no
estômago, e bebi com mais calma e mais devagar dessa vez. Ele me fez beber
mais uma taça cheia, sempre alternando com água.
“Para que tanta água?” Perguntei, curiosa.
“Para não desidratar. É por isso que vocês passam mal quando bebem.”
“Ah”. Parecia fazer sentido, e eu estava mesmo com sede. Aos poucos senti a
cabeça leve, e um calor com formigamentos se estendendo sobre minha pele.
Senti o quarto rodar um pouco, e vontade de rir. Ele me olhava atentamente o
tempo todo, sem perder um segundo, às vezes sorria.
“Edward Cullen, você não precisa disso para me seduzir”, eu protestei, rindo
um pouco. A bebida tinha subido bem rápido em meu corpo inexperiente.
“Eu sei. Mas acho que vai ser interessante”, e dizendo isso ele me deitou de
costas na cama, me ajeitando sobre os travesseiros. Depois se deitou ao meu
lado, e me puxou de encontro ao corpo dele, se colando a mim, a cada curva.
Ficamos os dois com os corpos entrelaçados, deitados de lado. Minha
respiração falhou, e eu puxei o ar com força. Ele passeou uma das mãos com
preguiça pelas minhas costas.
“Nervosa?” Ele perguntou, impassível.
“Um pouco”, admiti.
“Não fique. Somos feitos um para o outro.” E então ele começou a me beijar,
e meu corpo pegou fogo ainda mais rapidamente. O álcool fazia efeito, e as
sensações que ele me causava se intensificavam. Percebi que deixava minha
timidez de lado, e explorei o corpo que tanto me encantava já com alguma
familiaridade, tocando todas as partes dele, traçando as linhas com a ponta dos
dedos, como ele fazia, chegando perto das partes mais escondidas, partes que
antes eu morria só de pensar em tocar. Ele também gemia baixo em algumas
passagens, e em uma ou duas vezes disse meu nome com a voz rouca, quase
inaudível, não mais do que um sussurro. Em poucos minutos, estávamos os
dois ofegando. Quebrei o beijo que ele me dava para buscar ar. Ele se apoiou
em um dos braços e ficou me observando, enquanto os dedos passeavam por
minha barriga.
“Você fica linda assim, sabia? Me pergunto se consegue ficar mais linda do
que isso... Mas pretendo descobrir.”
“Ah é? Como?” Perguntei, antes que pudesse compreender o que estava por
trás das palavras dele.
“Observando seus olhos e seu rosto quando eu estiver dentro de você”, ele
respondeu, tranqüilo, como se estivesse me dando bom dia.
Engoli em seco. Observei como meu peito subia e descia com a respiração
acelerada, meu pulso parecia um tambor. Sentia a testa suada apesar do corpo
frio dele, que já não me incomodava. Eu estava com medo do desconhecido,
mas meu corpo inteiro pulsava pedindo por aquilo. Ele me tocava como se
tocasse um piano, extraindo de mim uma melodia, um ritmo. Fiquei me
perguntando como seria quando estivesse se movendo dentro de mim. De
repente não quis mais esperar. Eu queria saber.
“Acho que está na hora de descobrir, então. Ou você quer esperar mais um
pouco?” Eu perguntei, temerosa da resposta.
“Não, acho que eu não quero mais esperar.” E dizendo isso, ele se ergueu
sobre mim e se deitou sobre meu corpo num movimento perfeito, com
cuidado, para que eu me acostumasse com o frio do corpo dele sobre minha
pele quente. Ele me abraçou e enterrou o rosto em meu pescoço, em meus
cabelos, dando pequenas mordidas que me faziam pular de encontro ao corpo
dele buscando, implorando. Eu mal sabia que aquilo era apenas o começo.
[Edward]
Eu só estava calmo por fora. Precisava que ela estivesse calma e tranquila,
porque eu não estava. Havíamos chegado a um ponto meio que sem volta, não
havia mais muito a fazer, talvez pudesse esperar mais um pouco, prepará-la
melhor, mas eu não acreditava nisso, eu via em seus olhos que ela queria
aquilo tanto quanto eu, mais, até. Tudo estava indo bem, bem demais, mas o
esforço maior viria agora. Deitei-me sobre ela, para sentir seu corpo todo
colado no meu, e a abracei. Mergulhei o rosto em seu pescoço, em seu cabelo,
e senti a fome familiar chegando novamente, subindo por minha garganta. Ao
invés de parar, dei pequenas mordidas em seu pescoço, como se estivesse me
preparando para mordê-la, e ela praticamente saiu de si com aquilo. Acalmei
os pensamentos. Tinha que estar preparado para o pior, se eu a mordesse de
verdade teria que tentar novamente tirar o veneno de seu organismo, ou
prepará-la para a transformação. Tudo estava mais ou menos ajustado para
qualquer possibilidade.
Mas ao invés de aumentar minha fome, as mordidas, que não chegavam
sequer a arranhar sua pele, a acalmaram. Seria o instinto do caçador sendo
aplacado? De repente resolvi fazer um último teste, uma iluminação me
atingiu. Vinda do medo, talvez. Ou talvez fosse apenas mais curiosidade, mais
vontade de tê-la completamente. Ela estava suada, corada, um tormento por
toda a parte. “Calma, amor.”
E colei os lábios em seu pescoço, inspirando profundamente, sentido a
pulsação do sangue em suas artérias, me inebriando com seu cheiro doce,
tentador, provando o suor da pele, que lembrava de uma maneira milhares de
vezes mais fraca o gosto de seu sangue.
Me deixei levar pela experiência sensorial. Senti mais uma vez a boca cheia de
veneno, estava pronto para devorá-la, para bebê-la até o fim, mas a vontade
não era mais tão incontrolável como antes. Era como se não fosse a primeira
vez, e sim uma redescoberta de algo que ficara muito tempo longe de mim.
Ouvi um suspiro abafado no momento em que todo o seu corpo se contraiu, e
depois relaxou. O cheiro dela se tornou ainda mais intenso, beijei-a para fugir
da onda doce e fulminante que me alcançou. Me apoiei um pouco nos braços
para observá-la com curiosidade, e por um momento fiquei feliz por ela ter
insistido tanto em ter essa experiência antes da transformação. Ela estava me
dando um presente único, de sentir o corpo dela tão vivo, em uma experiência
tão unicamente humana. Fiquei feliz também em ter aceitado. Amanhã, caso
algo desse errado, eu poderia voltar a sentir culpa, responsabilidade, irritação
comigo mesmo por ser tão inconseqüente, mas naquele momento tudo que
existia era o calor que emanava dela, o cheiro intenso, a fome sob controle, e o
prazer que dávamos um ao outro.
Deitei-me ao seu lado, enquanto a observava, atento. Os olhos fechados, a
respiração entrecortada, o suor formando minúsculas gotas em sua testa, ela
estava a cada segundo ainda mais fascinante. A resistência que eu já tinha
contra transformá-la em uma de nós aumentou. Tanta coisa seria perdida! Ela
não tinha consciência da própria perfeição.
“Bella?” Arrisquei chamá-la depois de um tempo; um sussurro. Queria ver
seus olhos. Ela virou o rosto para mim e os abriu. Geralmente de um marrom
suave, seus olhos estavam escuros e fluidos, como ônix líquido; quase não
consegui distinguir as pupilas novamente dilatadas das íris escuras. Seu olhar
transbordava de amor, satisfação, surpresa e um pouco de timidez, tudo
misturado numa composição única. Sorri imensamente, devolvendo todos os
sentimentos que ela deixava transparecer... Segurei sua mão.
“Está viva ainda?” Perguntei brincando. Ela espreguiçou os braços como se
fosse uma gata.
“Parece que você decidiu me deixar viver mais alguns instantes.”Seus lábios
formaram um sorriso satisfeito.
“Ainda quer que eu continue?” Provoquei, chegando próximo a ela e
mordendo de leve o lóbulo da orelha. Ela pulou novamente, mas a resposta me
surpreendeu.
“Não, preciso de um tempo para me recuperar. Ainda tem champanhe?”
Dei uma risada espontânea e estendi o braço para a taça e a bebida que ainda
estava fria no balde de gelo. Enchi a taça, e entreguei em sua mão ainda
trêmula. Antes que bebesse, procurei seus lábios, tocando sua língua com a
minha.
Ela bebeu a taça inteira de uma só vez, continuava com sede. Ofereci água na
mesma quantidade, ela aceitou de bom grado. Depois se recostou novamente
nos travesseiros, e acariciei sua testa, tirando as mechas de cabelo que estavam
grudadas com suor.
Ela me olhou com um olhar indecifrável. Parecia querer poder ler a minha
mente desta vez. Retribuí o olhar com a mesma intensidade. Estávamos sem
palavras.
“Foi uma idéia que tive na última hora. Achei que, se me acostumasse com o
seu cheiro, poderia ser mais fácil. Eu ainda tenho medo, Bella. Não temos
garantias.”
Ela olhou para o teto por alguns instantes, depois ficou muito vermelha; me
olhou de canto de olho e eu sorri, não consegui evitar.
“Edward... Não posso reclamar, apesar de ter ficado...” Ela ficou mais
vermelha ainda. “Foi uma das sensações mais absurdamente maravilhosas que
eu já senti. Se o resto é ainda melhor... Eu não sei se vou agüentar”. Ela
parecia sincera. Mas eu sabia que era tudo uma questão de perspectiva. Era
estranho estarmos conversando sobre isso; as palavras não eram suficientes
para descrever as coisas, e era um pouco desajeitado. Nós nunca tínhamos
conversado sobre esse assunto abertamente. Era normal que ela ficasse
insegura. A falta de experiência ajudava. Tentei ser o mais sincero possível,
baseado em tudo que sabia.
“Até onde sei, vai ser diferente. Mas não posso dizer como, cada um tem um
corpo, uma forma de sentir”.
Ela sorriu. “Eu te amo”.A voz era linda. Obrigada por ter decidido vir para cá
comigo.”
“Não agradeça ainda. Ainda não acabou”.E minha voz se tornou novamente
maliciosa. “E por falar nisso, eu não aproveitei tanto quanto você. O que vai
fazer para consertar isso?”.
O sorriso voltou a seus lábios. “Bem”, ela respondeu, os olhos brilhando.
“Acho que aprendi uma ou duas coisas nas últimas horas. Vamos ver o que
consigo fazer por você”.
[Bella]
Meu coração acelerou novamente. A sensação de poder causar nele sensações
remotamente parecidas com as que ele me causava era viciante; eu não
conseguia pensar em parar. Queria que aquela noite durasse para sempre. Mais
uma vez não consegui acreditar que ele estava ali, que era meu, que me
amava, e que estava gostando tanto de estar ali como eu. Só que desta vez a
descrença era menor, e em parte substituída por uma necessidade de satisfazêlo;
eu conseguia ler em seu rosto e em sua voz como ele estava apreciando
tudo aquilo. Era meu dever retribuir tudo que ele me dera.
Mas não era simples; a timidez me atacava em ondas que iam e voltavam.
Depois de um tempo, eu só conseguia sentir as ondas de prazer que subiam
daquele ponto e se espalhavam para todo o resto do meu corpo. Minhas mãos
estavam subitamente soltas, latejando, e me tornei puro instinto. Eu não
conseguia acreditar que ele nunca tinha feito aquilo antes. Uma dúvida me
atravessou, será que ele tinha mentido para mim? Mas depois relaxei; ele não
teria porque, e eu sempre acreditei que ele poderia fazer qualquer coisa melhor
do que qualquer humano fosse na primeira vez ou na última. Ele era apenas
perfeito demais. Assustadoramente perfeito.
Quando tudo terminou – e na verdade não tinha terminado, cada pausa era o
prenúncio de algo cada vez mais enlouquecedor – a vergonha voltou com mais
força e eu tive que me controlar para conseguir olhar para ele. Mas seu olhar
desmanchou minha timidez, e consegui conversar de forma minimamente
adequada. E agora, aquele desafio. Como eu conseguiria causar nele as
mesmas coisas que ele me causara? Eu não tinha coragem nem de longe de
fazer o mesmo que ele tinha feito comigo; só de pensar e meu cérebro tinha
espasmos. Além disso, as sensações seriam as mesmas para ele? Ele reagira
bastante quando estávamos na água; a verdade é que eu ainda não entendia
muito bem como funcionava para mim, quanto mais para um vampiro.
Inclusive fiquei durante um tempo tentando imaginar como acontecia, já que
ele não estava, bem, tecnicamente, vivo, do jeito convencional. Mas a dúvida
se desfez nas últimas horas, quando vi que o corpo dele respondia aos meus
estímulos de forma muito conveniente. Algum dia talvez eu tivesse coragem
de perguntar. Hoje não.
Fiz então o que me pareceu mais certo: parei de pensar, e fiz apenas o que
meu corpo tinha vontade. Voltei a beijá-lo devagar, explorando cada
centímetro dos lábios gelados, sentindo que ele estremecia em contato com
meu calor. Ao mesmo tempo deslizei a mão por seu corpo; fazendo um
caminho parecido com o que ele fizera comigo no chuveiro; nos deitamos lado
a lado e enquanto o beijava explorei as costas, o peito, os braços, quadris, ora
com as palmas das mãos, ora com a ponta dos dedos. Minhas unhas estavam
bem curtas, desejei que estivessem mais compridas, mas depois lembrei que
provavelmente ele não sentiria mesmo. Era um dos inconvenientes de ter um
namorado vampiro. Mas a sensibilidade dele para outras coisas,
principalmente o contato da minha pele, parecia compensar aquela falta. Me
lembrei da primeira vez que nos tocamos mais prolongadamente na clareira,
do primeiro beijo que ele me deu, em como ele tinha sido esquivo e reservado;
em como tinha se afastado rapidamente do contato, como se eu o queimasse.
Agora era parecido, mas ele se permitia queimar, buscava o calor, a
intensidade. Eu me sentia nas nuvens.
Me afastei um pouco dele, me sentando próxima a seus pés. Ele permanecia
de olhos fechados, a expressão entregue, como se estivesse em outro mundo,
do mesmo jeito que eu havia estado; não percebi quando ele abriu os olhos.
Em determinado momento olhei para seu rosto – como eu gostava da
expressão que ele fazia! – e percebi que estava me encarando, os olhos
escuros, a respiração curta e rápida, eu não cansava de me surpreender com
suas reações, tão humanas, e ao mesmo tempo diferentes. Notei também em
seu olhar expectativa; aquilo me intimidou um pouco, era tudo tão novo,
acontecera tão rápido, ontem ele mal me beijava e hoje conhecia meu corpo
praticamente todo!. Senti o sangue do corpo todo ir para o rosto, minha mão
tremeu, mas respirei fundo e continuei. Me deitei ao lado dele, sem soltá-lo, e
voltei a procurar seus lábios com os meus. Percebi que ele estava se
controlando para não reagir plenamente, eu já conhecia bem a linha que se
formava em seus lábios e a postura tensa. Senti um pouco de medo. Agora eu
me sentia realmente brincando com fogo, as recomendações e precauções dele
se tornavam mais reais.
Percebi em um determinado momento que meus movimentos estavam
sincronizados com sua respiração, e com a intensidade do beijo. Senti meu
corpo voltar a responder ao dele e a suas reações, a reacender lentamente, e
furiosamente. O calor de meu corpo contrastava com o frio dele; o calor do ar
e de minha respiração pareciam transtorná-lo numa tortura lenta e crescente.
Eu podia sentir, mais do que qualquer coisa, a fome que ele sentia, em sua
postura, em seu rosto, em seus olhos que se abriam e fechavam como em um
delírio de febre. E inesperadamente, num movimento rápido, ele se
desvencilhou de minhas mãos, rolou para cima de mim, separando minhas
pernas com as dele, e nossos corpos se encaixaram. Minha reação inicial foi
de protesto, de susto, mas ele a sufocou com um aperto selvagem, enquanto
deslizava devagar para dentro de mim em um movimento forte do quadril,
provocando uma dor aguda onde antes só houvera prazer, misturada com uma
sensação completamente nova de ânsia. O protesto de dor foi sufocado
também por seus lábios, que morderam os meus, enquanto ele se movia
novamente, causando uma segunda onda de dor, essa mais leve, enquanto a
ânsia crescia. Ele percebeu minha agonia, e ficou imóvel, sobre mim, dentro
de mim, esperando. A respiração dele estava acelerada de uma forma que eu
jamais vira, e agora meu medo era absoluto. E se ele não conseguisse se
controlar?
Mas de alguma forma ele conseguiu, e sua respiração foi desacelerando aos
poucos, enquanto ele permanecia imóvel. Depois de um tempo que não
consegui precisar, ele voltou a se mover. E então eu já quase não sentia dor.
Foi quando ele ergueu a cabeça para me olhar, e eu desejei que a noite
estivesse apenas começando.
Edward
Quando nós perdemos o controle, tudo fica vermelho. Tudo vira um infinito
de instinto e sensações. Frio, calor, fome, sede, barulho, cheiros, raiva, defesa,
ataque, fuga. Qualquer coisa que não esteja entre estas coisas vira um
emaranhado de borrões indistintos, e nós ficamos temporariamente incapazes
de pensar; a ação e a emoção predominam sobre todas as outras coisas. O
raciocínio coerente se esvai, dando lugar à fera que espreita o tempo todo por
baixo da superfície civilizada, querendo satisfazer suas necessidades, até
conseguir satisfazê-las.
Naquela circunstância não foi um sentimento conhecido e comum que me
tirou o controle. Foi algo com o qual eu não estava acostumado a lidar, e que
vinha tentando negar sistematicamente nos últimos meses, desde que os
momentos a sós com Bella tinham se tornado uma constante: o desejo por ela.
Desde que eu a conhecera e descobrira que ela correspondia aos meus
sentimentos que eu lutava o tempo inteiro contra a vontade de tocá-la, de
sentir meus lábios sobre sua pele. Mas com o passar do tempo, quando eu
finalmente aceitara sua presença em minha vida e passara a procurar, aceitar,
não temer seu toque, aquilo já não era suficiente para saciar a vontade de tê-la
inteiramente. Era sempre com muito esforço que eu me afastava, sempre com
uma dor física quase insuportável. Nesses momentos eu tinha medo da reação
do meu corpo, que agia de formas inesperadas. Ela sofria muito com aquelas
rejeições, mas eu não podia me deixar levar, simplesmente não confiava em
mim o suficiente.
Já tinha sido bastante difícil segurar todos os impulsos que haviam me
assolado naquela noite, quando eu tomava a maior parte das iniciativas,
tentando manter a situação sob controle minimamente, e nisso sua timidez me
ajudava. Porém quando ela assumiu o controle eu pude apenas me deixar levar
pelo seu toque, e torcer para que eu fosse mesmo merecedor de toda aquela
confiança. Não imaginei que ela fosse tão longe; quando começou a me
provocar, a me tocar de forma tão entregue, meu corpo reagiu sozinho como
sempre, e o pensamento começou a se nublar.
Confesso que tentei resistir um pouco, porém os segundos iam se passando, e
a intensidade do toque ia me levando cada vez mais para longe de tudo que
não era ela... E todas as proteções de minha mente caíram, todas as
precauções, hesitações. Quando dei por mim estava dentro dela, sentindo seu
corpo ao redor do meu, me aceitando, me enchendo de calor em todas as
partes, me pressionando. E ouvi o eco de um gemido de dor. Foi apenas por
isso que consegui parar, porque meu corpo queria continuar se movendo
dentro dela, cada vez mais forte, cada vez mais rápido, até que eu explodisse
em sensações, calor e prazer. Tudo era desconhecido, eu não sabia como
aquilo funcionava em meu organismo, só o que eu sabia era que tinha uma
vontade não saciada de esquecer resto do mundo e me afundar na mulher que
era minha. Não importava quantas vezes eu ouvira falar sobre aquilo, ou lera
nos pensamentos alheios. Nada tinha me preparado para aquela sensação de
abandono pleno em meu corpo e em minha mente.
Sem perceber eu havia enfim quebrado a última barreira, e quando
compreendi o que havia acontecido a princípio não soube o que fazer. Fiquei
estático, imóvel, tentando entender o que havia acontecido, e como, sem
conseguir me lembrar. Senti que as preocupações e culpas ameaçavam voltar
com toda a força, e lutei contra elas; ela queria, eu queria, e eu sabia que ela
queria que eu vivesse aquele momento com a mente e o coração inteiros e não
parcialmente, cheios de hesitações. Empurrei as racionalizações para longe
com mais um movimento firme do meu corpo contra o dela, e pela primeira
vez pude me deliciar de forma consciente com as sensações que aquele
momento me proporcionava. Era tudo tão novo que não sabia descrever com
palavras. Mas era como a maré subindo; onda, fluxo e refluxo, sempre
inundado de calor; a cada ir e voltar subindo mais longe, chegando mais perto
de algo ainda indefinido, mas sentindo que o algo aumentava a cada retorno, a
cada onda, numa espiral crescente de agonia e de prazer. Senti o cheiro
sempre avassalador de seu sangue, mas ele não causou em mim o efeito que
eu temia. De alguma forma o desejo superava a fome, e eu só conseguia
continuar o que estava fazendo, invadindo seu corpo repetidas vezes, como se
estivesse marcando minha presença dentro dela, tornando-a realmente minha.
Entrelacei minhas mãos nas dela, segurando-a firme contra a cama, e
experimentei mudar um pouco o peso e a forma com que eu me movia;
testando os movimentos com cuidado para não machucá-la. Ela se ajustou a
mim prontamente, apertando minhas mãos com força. Eu ainda estava
envergonhado pela minha falta de controle, e por ter perdido aquele momento
inicial mergulhado em desejo, e prolonguei aquele primeiro reconhecimento
dela, ouvindo o ritmo de seu coração, de sua respiração, sentindo as mudanças
no seu cheiro, que se misturava com o meu.
Depois de alguns momentos imerso em meus pensamentos e descobertas,
procurei seus olhos. E encontrei coisas que nunca havia visto antes. Como se
ela tivesse envelhecido, amadurecido apenas naquele contato, naquela
invasão. Agora ela era minha mulher, e se sentia assim. O sentimento de
pertencer a alguém plenamente a transformara de alguma forma que eu não
compreendia, e talvez esse fosse um mistério reservado apenas às mulheres,
do qual até então eu nunca fizera parte, e talvez nunca compreendesse
plenamente. Ela gemeu baixo enquanto eu explorava devagar as melhores
formas de me encaixar nela, alternando velocidade, força, ritmo, e eu senti
uma explosão em meu peito, uma alegria misturada com paixão que beirava a
insanidade. Ela era minha, completamente. Era minha companheira, viajava
comigo naquela loucura, e estávamos ambos inteiros, até agora. Muito melhor
do que eu previra. Depois de saciar a curiosidade inicial – e eu ficava olhando
para ela, prestando atenção em suas reações, e ela ainda conseguia ficar
ruborizada – comecei a misturar estímulos, sem me separar dela, com os
lábios e as mãos passeando por todo o seu corpo, por todos os pontos
sensíveis, e rapidamente os gemidos baixos se tornaram altos, e em alguns
momentos gritos de surpresa, quando eu fazia algo de inesperado. Eu me
guiava por seus gemidos e suas respostas, as batidas do coração, o ritmo da
respiração, e ia navegando num mar estranho e desconhecido, sem uma
direção única a seguir, flutuando ao sabor das ondas, me deixando levar pela
maré. Percebi que em alguns momentos ela parecia prestes a dizer alguma
coisa, e depois mudava de idéia. Eu ficava mordido de curiosidade,
triplamente mortificado por não conseguir acessar seus pensamentos, porém
não tinha coragem de quebrar o encanto do momento com perguntas ou
palavras. Palavras eram desnecessárias. Meu corpo dizia tudo, e o dela
respondia, numa dança lenta, hipnótica, antiga como o mundo. Aqui ela não
era nem um pouco desajeitada; era uma amante habilidosa e natural. Eu
percebia isso pela forma com que ela se abandonava ao instinto, sem cálculos,
sem complicações, uma vez superada a maior parte da vergonha.
Quando percebia que ela estava excitada demais eu diminuía os movimentos
até parar, deixando que ela se controlasse. Os protestos que ela fazia quando
eu parava só aumentavam meu desejo de prolongar tudo, sabendo que quando
ela atingisse o clímax novamente ele viria com muito mais força. Tentei
ajustar o ritmo dela ao meu, conduzindo com paciência seu corpo em chamas,
mas era difícil; ela se abandonava com mais ímpeto, e às vezes eu tinha que
chamá-la em voz baixa, acalmá-la, trazê-la de volta ao meu ritmo.
“Comigo, Bella, não contra mim”, sussurrei em seu ouvido quando ela se
moveu freneticamente contra meu corpo para alcançar a satisfação que eu
estava lhe negando. Ela ofegou e abriu os olhos, mostrando mais uma vez
aquela coloração escura que denunciava a extensão de seu desejo. Ela me
abraçou com força e retribuí o abraço, ao mesmo tempo em que separava meu
corpo do dela, e a virava de costas para mim, de lado, para mais uma vez
preenchê-la, e retomar a exploração.
Não sei como consegui prolongar aquilo por tantas vezes; sabia que era uma
tortura para ela, bem como para mim, mas o controle vinha fácil nos
momentos em que ela beirava o êxtase, e se esvaía nas horas em que eu me
aproximava. Nessas horas eu me esquecia quem era, e existia apenas o meu
corpo entrando e saindo do dela, seu cheiro, seu hálito, seu sabor, sua pele
contra a minha, o calor que dela emanava continuamente, apagando o frio do
meu corpo. Algumas vezes, quando eu voltava desses estados de ausência,
tinha que me certificar de que não a havia mordido ou machucado sem
perceber, e ela estava sempre inteira, linda, com a expressão transtornada de
prazer, os olhos fechados, como se estivesse também em outro mundo secreto,
os lábios inchados pelas mordidas que eu lhe dava. Fui adquirindo confiança,
e me deixando levar por mais vezes, permitindo que o caçador que eu era se
revelasse. Minha natureza não precisava mais ser negada, eu estava fazendo
exatamente o que meu instinto exigia. A expressão “brincar com a comida”
passou rapidamente pela minha mente, me provocando um sorriso
involuntário. Não deixava de ser uma forma de ver a situação, por menos
romântico que fosse. E de certa forma era uma caçada, mas o objetivo final
não era alimento e não precisava terminar em morte.
Perdi a noção do tempo e de tudo que fiz enquanto ia aprendendo com ela o
que era a satisfação que eu tanto buscara. Só sei que nos deixamos levar pela
vontade dos corpos, provando, descobrindo novas formas de encaixe, novas
sensações. Por mais duas vezes eu me aproximei do descontrole, quando
cheguei muito próximo do êxtase, e na terceira vez tudo se apagou, quando a
onda enfim chegou ao limite mais rápido do que eu previa e quebrou numa
nuvem de espasmos do meu corpo sobre o dela, e eu me senti esvaziar, rápido
e devagar, pulsando, até que eu não era mais Edward Cullen, eu era apenas um
ponto suspenso num mar feito do cheiro e do calor dela. Eu estava vivo
novamente. Não havia mais frio, nem poderes sobrenaturais, nem fome de
sangue. Eu não era mais o predador, eu apenas existia, simplesmente, e era
feito inteiramente de eletricidade. Eu não sabia como ela estava, se tinha
chegado ao mesmo ponto junto comigo, se estava inteira ou em pedaços
devido à força de meu abraço, de minhas mãos apertando suas costas, seus
braços, mas também não conseguia pensar. Havia apenas o bem-estar. Pela
primeira vez desde que me tornara um vampiro eu apaguei tudo. Minha mente
não existia. A inconsciência se abateu sobre mim, e se eu tivesse um coração
batendo acredito que ele pararia por alguns instantes, enquanto tudo estava
suspenso. Depois houve apenas paz.
Voltei um pouco assustado, como quem acorda de um sono leve, as
percepções voltando todas ao mesmo tempo, pouca luz, as velas derretidas nos
candelabros, algumas já apagadas, o cheiro intoxicante de suor e sexo que
vinha de Bella, os barulhos da noite, o calor do ar da ilha, o calor do corpo
dela, os lençóis um pouco úmidos embaixo do meu corpo, as pontas dos meus
dedos formigando, o pulsar estável de seu coração, a respiração rítmica e
tranquila. Ela estava me olhando, serena, os olhos novamente cor de
chocolate, com a expressão um pouco cansada. Ela ergueu a mão em um
movimento suave e passou pela minha testa, e sorriu levemente. Quando ela
falou, sua voz traía a exaustão, mas o sorriso em seu rosto apagava todo o
resto.
“E você querendo me negar isso tudo...?” Havia brincadeira e provocação na
voz, e um pouco de censura.
Abracei-a de leve, colocando seu rosto em meu peito, aninhando o corpo dela
junto ao meu.
“Bella... Você sabe que eu não podia ter certeza. Não vamos começar com
isso de novo.”
“Desculpe, Edward.” Notei o tom constrangido de sua voz e a apertei com
mais força. “Era uma espécie de brincadeira.”
“Eu sei, meu amor. Mas você realmente não devia brincar tanto com essas
coisas assim.” Não consegui evitar o escorregar de minha mão por suas costas.
Na verdade eu não queria evitar, mas queria dar tempo para ela se recuperar
de tantas coisas. Ela se contraiu toda sob meu toque.
“Alguma coisa errada?” Virei seu rosto para mim, procurando um sinal de
algo errado. Já estava começando a ficar tenso novamente.
Ela ficou vermelha. Muito vermelha. De novo. Não entendi muito bem o
porquê. Ela estava envergonhada do que havíamos feito, ainda? De quantas
maneiras ela ainda conseguiria me surpreender?
“Não, nada errado... É que...” A vermelhidão conseguiu se intensificar ainda
mais. “Você parou e eu ainda não tinha... Você me fez perder o ritmo e eu...”
Ela não conseguiu terminar a frase, mordendo o lábio, lindamente
envergonhada, os olhos baixos.
“Por isso que você reagiu assim quando eu toquei suas costas?” Eu ia
descobrindo como o corpo dela funcionava, maravilhado.
Ela acenou com a cabeça. Eu fiz com que ela virasse na cama, deixando as
costas ao meu alcance. Percebi a tensão dos músculos quando a toquei, mesmo
de leve. Um sorriso veio involuntariamente a meus lábios. Então ela ainda
estava com milhares de estímulos agindo sobre seu corpo, condensados. Eu
não conseguiria dizer, pela calma que emanava dela. Acariciei suas costas
com a ponta dos dedos, começando no centro e subindo até a nuca, por sob o
cabelo desalinhado.
Agora que eu estava mais controlado, era maravilhoso poder observar as
reações instantâneas que meu toque causava nela inteira, cada músculo que se
contraía, cada arrepio na pele. Desci com os dedos, tocando-a de leve,
despertando novamente seu corpo, e sentindo que o meu respondia da mesma
forma. Fiquei surpreso com a facilidade com que o desejo renascia e tive
certeza que eu nunca me cansaria dela. Quando ela estava mais uma vez
ardendo, me deitei de costas e puxei seu corpo sobre o meu, me encaixando
dentro dela num movimento súbito e inesperado. Minha boca estava sobre a
dela, e abafou um gemido alto, ao mesmo tempo em que ela buscava ar.
Gostei do acesso que tinha ao seu corpo, e aproveitei o melhor que pude,
provocando, tocando, buscando dar a ela a mesma satisfação que eu atingira
antes.
Dessa vez não prolonguei os movimentos, atingindo um crescendo rápido e
sustentado, sempre guiado por suas respostas às minhas iniciativas. Em um
determinado momento, no entanto, não consegui continuar, e parei
novamente. Estava curioso. Queria descobrir o que ela queria, seguir o ritmo
dela e não o meu. Fiquei imóvel sob seu corpo, e ela gemeu novamente em
frustração. Senti seus punhos se baterem contra meu peito sólido, depois ela
me abraçou forte, e começou a se mover contra mim, primeiro de forma
hesitante, depois com mais desenvoltura, retomando o ritmo que eu havia
desfeito, porém de forma mais errática, irregular, como se obedecesse a algum
comando invisível que regulava sua velocidade, seu tempo. Em meus
pensamentos seu ritmo virava uma melodia deliciosa e irreproduzível. Quando
senti que ela estava à beira do êxtase, segurei seu corpo mais uma vez,
parando seus movimentos. Ela deixou escapar entre os dentes um gemido
baixo de protesto, mas antes que ela pudesse reagir eu girei o corpo,
imprensando o dela sob o meu mais uma vez, e acelerei o ritmo, sentindo que
eu também estava mais perto de explodir novamente do que havia percebido.
Coordenei meus movimentos com os dela, e em poucos segundos estávamos
ambos ofegando, eu escutava sua pulsação subindo cada vez mais rápido, e
seu corpo se contraindo. Já estava familiarizado com os prenúncios que seu
corpo mostrava, e dessa vez não parei mais. Ela gemeu cada vez mais rápido
contra meu pescoço, e eu senti, no momento que ela alcançou o ponto mais
alto, seu coração perder uma batida. Depois disso ela era pura pulsação ao
meu redor, me apertando, e eu quase conseguia sentir a eletricidade correr por
seu corpo e chegar ao meu. Minha própria consciência estava oscilando, e
antes que tudo se apagasse mais uma vez – e o prazer dela sempre alimentava
o meu duplamente – eu chamei seu nome. Ela abriu os olhos, e pude ver o
momento de abandono total que ela atingira, um pouco antes de eu afundar
mais uma vez no escuro de seu corpo, e de sua imensidão.
[Bella]
Acordei algumas vezes naquela noite, ou seria consegui dormir algumas vezes
naquela noite? Os sonhos vinham rapidamente, com o sono ainda leve, sempre
com ele, sempre com seu corpo, sempre com as sensações que eu estava
descobrindo devagar. Se eu pudesse ficar vermelha em sonhos, com certeza
ficaria, e talvez tivesse ficado na vida real, e talvez ele estivesse vendo, porque
nos meus sonhos eu não tinha reservas, e me abandonava em seus braços sem
uma gota de timidez. Mas acordei algumas vezes naquela noite, sempre para
sentir que nós estávamos novamente em chamas, seu corpo sempre pronto
contra o meu, que por sua vez sempre o recebia sem reservas, e igualmente
disposto. Eu não me cansava de estar com ele daquela forma, e ele não parecia
cansado tampouco. Algumas vezes eu não sabia dizer se era sonho ou
realidade, ou ambas as coisas. Sei apenas que parecíamos nos esforçar para
matar toda a sede que tínhamos um do outro há tantos meses, como se o
amanhecer pudesse trazer algo diferente, uma outra realidade que pudesse
negar o que estava acontecendo. A noite conspirava a nosso favor, fazia a
magia daquele momento se estender, perdurar. A noite abrigava aquele amor
errado e certo, aquele atentado à racionalidade. A noite nos pertencia.
Em alguns momentos eu percebia tudo nitidamente. Os olhos haviam se
acostumado à escuridão, e a lua descera até perto do mar, e entrava pela
janela, deixando tudo branco. As velas já haviam se apagado há muito tempo,
mas eu não sentia frio; meu corpo estava um pouco entorpecido pelo prazer,
incapaz de sentir qualquer outra coisa que não fosse ele, seus lábios, mãos,
dedos, pele. Eu mergulhava o olhar no dele, e subíamos mais uma vez aquele
caminho em espiral que nos levava até o céu. E quando voltávamos para a
terra começávamos tudo de novo.
Em outros momentos as coisas ficavam embaçadas, geralmente quando ele me
arrancava do sono com delicadeza, sempre doce, sempre gentil - a princípio.
Com o passar dos minutos ele ia se tornando mais selvagem, mais intenso, e
eu comecei a ficar à vontade com o predador que ele era, sabendo que eu
podia ser sua presa eternamente, voluntariamente, e talvez aquilo o saciasse. E
percebi, em um determinado momento, que eu não queria mais me tornar um
vampiro; eu queria permanecer exatamente daquele jeito, sendo o calor que
ele não podia mais encontrar de outras formas a não ser no sangue, vendo sua
expressão transtornada de prazer e alegria.
Não havia vida para mim longe de Edward. Eu aprendera isso na carne, em
um tempo que agora parecia distante demais para ter algum significado. O
agora era muito diferente. E eu queria prolongar aquilo enquanto eu pudesse.
Meu corpo estava cansado, dolorido, eu teria algumas marcas pela manhã,
sentira momentos curtos de dor, mas tudo aquilo virava nada quando
comparado com o tudo que tínhamos alcançado naquela noite.
Foi com essa certeza e determinação que adormeci, já ouvindo alguns pássaros
ao longe, anunciando a chegada iminente do sol. Ainda estava tudo escuro,
mas eu podia sentir a mudança no ar, meu corpo estava muito consciente de
tudo. Ele despertara, enfim. Antes de adormecer, pude ouvir que Edward
sussurrava minha música baixinho, acariciando meus cabelos, e me mandando
dormir.
[Edward]
Quando o sol nasceu eu estava do lado de fora da casa, olhando o mar. Bella
estava profundamente adormecida, o coração batendo devagar, no ritmo da
respiração suave. Tudo ao meu redor saía lentamente de seu estado letárgico.
O barulho das pequenas ondas exercia um efeito calmante sobre minha mente,
e eu me esforçava para não ceder à agitação que tomava conta de mim. Havia
coisas que eu precisava encarar, mas não precisava ser agora. Agora tudo que
eu queria era aproveitar o resto da noite que ia embora, antes de voltar a ser o
Edward que eu aprendera a ser ao longo dos anos.
Entrei no mar lentamente, deixando a água envolver meu corpo ao mesmo
tempo em que lavava de mim o cheiro de Isabella Cullen. Aquilo me causou
alívio e dor ao mesmo tempo. Era um alívio poder respirar de novo sem
reservas, sem restrições, sem tanta fome. Mas ao mesmo tempo em que a água
carregava seu cheiro com ela, eu já pensava em voltar para a cama e me deitar
ao lado dela, e vigiar seu sono, e tocá-la. Era um vício impossível de resistir
por muito tempo. Olhei para o passado, em como havia sido no início de nosso
relacionamento, em como eu não conseguia passar muito tempo longe dela,
longe do pensamento nela. Agora era muito pior.
Mergulhei na água quente e nadei por um longo tempo, ainda me recusando a
encarar as coisas que eu precisava encarar. Naquele momento eu não queria
pensar em tudo que tinha acontecido. Aquilo ia me destruir lentamente se eu
não tomasse cuidado: culpa, remorso, eu não sabia como lidar com esses
sentimentos que eram já antigos, mas agora renovados. Porque era ela que
estava em jogo ali. Quando voltei me sentei um pouco na areia, deixando os
raios ainda fracos do sol banharem minha pele, eu me via cintilar fracamente,
pálido. Não conseguia ouvir um único pensamento humano por perto. Eu
estava completamente sozinho com Bella. E eu...
Balancei a cabeça, deixando as lembranças voltarem mais um vez à superfície,
escolhendo com calma a ordem e a intensidade do retorno. Eu precisava
compreender o que havia acontecido antes de descer ao inferno novamente.
Antes que a necessidade irracional de me afastar dela mais uma vez me
dominasse e eu fugisse sem olhar para trás. Eu não a merecia. Não merecia
aquela entrega, não havia merecido aquela noite. Ela não podia confiar em
mim. Nem eu.
Não me lembro exatamente como aconteceu, só me lembro de estar alternando
estados de consciência e inconsciência – e essa era a primeira vez que aquilo
me acontecia dessa forma. Eu não dormia, não sonhava, mas a experiência
física com ela havia aberto para mim novos estados de consciência. Tanto uma
consciência mais exacerbada como algo próximo da inconsciência. E foi num
desses estados que me aproximei dela mais uma vez enquanto ela dormia, meu
corpo queimando de fome e aflição, incapaz de se saciar, com a vontade cada
vez maior de tê-la de novo. Eu abracei seu corpo com o meu, ela estava
deitada de costas para mim, profundamente adormecida. O cheiro que vinha
dela me queimava lentamente a garganta, o estômago, os olhos, tudo ardia.
Entendi naquele momento que enquanto Bella estivesse viva eu sempre teria
que conviver com a fome. E que quanto mais tempo eu ficasse com ela
daquela forma tão próxima, mais difícil seria de lidar com ela. Eu estivera
errado em achar que poderia me acostumar. A fome e o amor andavam de
mãos dadas. Eram indissociáveis. Ambos eram parte de mim; eu era instinto,
razão, emoção e não podia negar minha essência. Olhei impotente enquanto
me aproximava de seu pescoço macio em câmera lenta, meio hesitante, meio
incapaz de parar. Eu a queria com o corpo, com a alma, mas eu queria mais,
como uma mariposa eternamente arrastada para a luz, contra sua vontade.
Minha boca estava seca, mas o veneno começou a escorrer lentamente das
presas, enquanto eu me colava a ela, hipnotizado. Meus olhos perceberam uma
artéria pulsando no pescoço, e aproximei meu rosto do local, deitando minha
cabeça próxima a seu ombro. Ela se mexeu durante o sono, gemendo. O som
não me incomodou nem foi suficiente para me tirar do transe. Eu queria
provar seu sangue novamente.
Foi fácil romper a pele do ombro com delicadeza com uma mordida leve, com
cuidado, para não contaminar seu organismo. O sangue brotou em pequenas
gotas, e eu inspirei profundamente, sentindo o perfume contra o qual eu lutara
infinitas vezes me invadindo com a força de um sol. O que eu estava fazendo?
Milhões de vozes gritaram dentro de minha mente, mas eu as ignorei, e toquei
as gotas com a língua, a princípio gentilmente. Ela se mexeu mais uma vez, e
gemeu meu nome. Que sensação ela teria? Mas ela não podia acordar. O que
eu estava fazendo? Porque eu tinha concordado com aquilo? Bella despertara
tudo aquilo que eu refreava em mim. Tudo.
Com ela eu me tornava completo.
O que aconteceu depois está envolto em uma névoa avermelhada. Não tentei
forçar as memórias a voltarem; sei apenas que depois de um tempo bebendo
dela vagarosamente eu me vi mais uma vez dentro dela, com as duas coisas
acontecendo simultaneamente. O fluxo de sangue cessou, e a ferida mal
aparecia em sua pele. Eu não senti a necessidade atroz de continuar como da
outra vez, em que havia tomado uma quantidade ainda maior de seu sangue
contaminado. Desta vez seu sabor era puro, rico e matizado por todas as
mudanças que eu havia causado nela. Nem de longe parecido com o que eu
imaginava, porque era infinitamente melhor, mais saboroso, mais intenso... E
ela havia me preenchido. Ao mesmo tempo em que eu queimava de raiva por
mim mesmo, de angústia, de apreensão... Aquele tinha sido o momento mais
belo de toda a minha existência.
O problema não foi exatamente o fato de eu não ter conseguido me controlar o
suficiente para evitar o que tinha feito. O problema era que não havia
acontecido de verdade. Eu havia sonhado. Só percebi isso quando as coisas
voltaram ao foco e eu percebi que sequer havia tocado em Bella enquanto
todas essas coisas aconteciam apenas em minha mente. Fiquei horrorizado
quando descobri. Não podia distinguir de maneira alguma o que era real do
que era imaginário. E se isso tinha acontecido por causa da libertação que
havia sido aquela noite, ela jamais poderia se repetir. Eu não podia me
permitir. Talvez o desejo de beber seu sangue falasse mais forte e eu acordasse
com ela morta em meus braços. E minha vida perderia todo o sentido.
Eu não era confiável.
Deixei os sentimentos me queimarem enquanto o sol subia. Enquanto eu
lutava pacientemente contra a raiva e a culpa. No final, venci a batalha, por
muito pouco. Resolvi que merecia aquilo. Que tudo tinha dado certo. E que eu
não permitiria que ela soubesse. E que eu não me permitiria nunca mais tocála
daquela forma enquanto não fosse seguro. Enquanto ela fosse tão frágil. Eu
nunca mais a colocaria em risco de novo.
Sim, eu podia fazer isso.
O sol estava mais alto. O coração e a respiração de Bella começaram a sair do
padrão lento, e a acelerar levemente, o que significava que ela ia acordar em
breve. Voltei para a casa, tomei um banho, e me deitei novamente ao lado
dela. Tentei evitar olhá-la por enquanto. Isso só tornaria mais difícil sustentar
minha decisão. Ela não precisava saber o porque, mas com certeza iria exigir
uma resposta que fosse razoavelmente aceitável. Eu percebera mais cedo que
ela estava com alguns hematomas, nada muito grave, levando em
consideração a noite que tivemos. Mas isso precisaria servir. E eu precisaria
de toda a minha determinação para não tomá-la de novo. Por quanto tempo eu
conseguiria resistir a ela? Não sabia.
A despeito de toda a emoção que sentia, o frio na barriga que me assolou ao
pensar que eu em breve precisaria enfrentar sua fúria – justificada – e dos
resquícios de culpa, eu não pude impedir um sorriso lento de se instalar em
meu rosto. Aquele seria o primeiro dia do resto de minha vida com ela. E ela
era Bella, afinal de contas. Eu conseguira tudo o que queria.
E eu sabia que cada dia seria mais um dia de descobertas. Eternamente.
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